OLHEI PARA O CÉU

 Eu vi o céu.  Havia muitas estrelas brilhantes, adornando a lua majestosa. O céu onde não há nuvens, somente o brilho aquele brilho prateado intenso.

Na grama, os sapos, os grilos e toda espécie de viventes noturnos cortejavam a lua, como donzela fosse. 

O curiango apaixonado, a coruja ressabiada, morcegos desentendidos, todos mostravam sua vida pelo céu sem nuvens. A lua até deu risada de nós

Cabeças fitando a sua doçura de deusa da noite. Soberana era a sua imponência, quase magnificada  no céu  estrelado.

O cobertor de estrelas apenas dava o toque de usa majestade prateada.

Céu do sertãozinho, da vila pequena de pessoas grandes.

Olhei para o céu e vi tantas coisas ....

PALIDROMIA DAS ANAS

Ana não tinha pressa. Ela vai e vem pelo caminho pautado

Ana  é única Ana da página do  livro da Ana.

As Anas, são sempre transparentes, quem vê a frente, vê de traz para frente.

No livro  de Ana todo fim é um começo e o começo é sempre o fim e o começo. ( não consigo parar de dizer isto ) 

Ana, em seu Pali dromo , caminha pelos amores da vida. 

Quem já não a quis ter?

Quem já não desejou ser?

Ana.

Ana é musicalidade universal, afinal de quantas Anas precisamos para gerar um Batista?

Ana, independente da direção, mantém seu sentido. 

Sentido de longe é o teu prazer, que anaclíticas dispensa acentos nas rodas  de leituras.

Anas, socorra-me, subi no ônibus em Marrocos - linda Palindromia das Anas 

Ana rir e ama. Ana ame o poema

Ama Ana

Ainda é cedo para ir Ana

Espera, pois em mim não há  aibofobia do teu corpo.

SONHO REAL - LÔ BORGES

 A primeira vista

A paixão não tem defesa

Tem de ser um grande artista

Pra querer se segurar

Faz tremer a perna

Faz a bela virar fera

Quando alguém que a gente espera

Quer se chegar

Só de pensar

Já me faz mais feliz

Nem bem o amor começa

Eu já quero bis

Chega e instala a beleza

No mesmo momento

Ilusão tão boa

Quanto o astral de uma pessoa

Chega junto, roça a pele

E já quer se enroscar

Lê seu pensamento

Paralisa seu momento

Ao se encostar

Sonho real faz surpresa pra mim

E trança o meu destino com alguém assim

Chega e instala a beleza

No mesmo momento

Felicidade pode estar pelo sim

Às vezes do seu lado

Tem alguém a fim

Chega e instala a beleza

Momento de sonho real

Vem andar comigo

Numa beira de estrada

Desse lado ensolarado

Que eu achei pra caminhar

Vem meu anjo torto

Abusar do meu conforto

Ser meu bem em cada porto

Que eu ancorar

Felicidade pode estar pelo sim

Às vezes do seu lado

Tem alguém a fim

Chega e instala a beleza

Momento de sonho real

cantiga amineirada

Em cada canto um canto

Em torno da mão e do corpo

Em cada manhã alvoroço

Em tua cama  renovo

Em minha vida compasso 

Em cada caminho que eu passo

Em cada folha um traço

De carinho e de regaço

Vira a moda de um dia

No paço da viola e poesia

que espanta o pesar e a melancolia 

De uma vida sem o chão.

E rola a moça faceira, menina, 

mulher rendeira, 

compasso e canção

E o café muda o dia,

E o dia que muda a vida

E a vida peregrina neste "trem bão"

Gira mundo

Gira mundo, gira tudo

Gira mundo, gira-sol

Festa  nova, lua vem

clareando o meu bem.

Vem andando, vem chegando

Vem trazendo  a namorada

O amor de ciranda.

que criança quando acorda

Pula corda, bate e volta.

pique esconde nesta hora

Solta o beijo no poço

agarrada no pescoço.

Vai passando devagarinho 

O anel em de mão em mão

Brincadeira de criança 

O amor em que se lança.

Bate bola, bate ponto

Colação em meio a tarde

Amanhã tudo  de novo,

Vou te espera no fim da escola

Olá rua, olá bola

deste jeito mãe que chora

vai chamando pelo almoço

que brincar não tem hora

Rima rica em prosa nova

brincadeira nesta hora

cabra cega , pique esconde

na ciranda vou avante

Sempre vendo o meu caminho

de menino, de moleque

numa bola, numa pipa

Criançada participa

La lara, lara lara

Vem sem medo

vem brincar

pois a vida é toda sua

pula pula lá na rua. 

olha o moço no terraço

este mesmo não disfarço

que um dia foi garoto 

e pulou os anos todos

que as rugas já surgiram 

mas uma vida ainda é pouco

No final da tarde o sol se põe

Meninada vai chorando

tomar banho.... e dormir 

Dorme, dorme pequenino

que amanhã já está chegando

e depois de uma jornada

começar tudo de novo

Pula, pula,  bate corda ....

OLHOS II

Hoje imaginei seus olhos nos meus. 

Quantas forma de te olhar. 

Quantas formas de impressionar

Olhos que deparamos e nos desnuda a alma

Um olhar. 

Desejo marcado, em pleno dia.

Teus olhos, tua pele, teu gosto.

Quantas formas de ter amar,

Vestida de nada

Coberta por meus desejos.

Ardentes desejos.

Doce olhar. 

Seus olhos, difícil não me render.

Vida em dormentes e pedras pelo caminho

Encontro de si mesmo  na estação.

A mesma coisa dita: Adeus.

Que pela fumaça do trem, 

Espalha-se o devaneios.

Que pela forma dos rostos, o desejo de não ir.

Partimos.

A vida passa em dormentes. 

Pedras da vida lançadas pelo caminho. Trilhos, curvas outros lugares...

Caminho de ida e de volta

E voltamos.

Voltamos ao mesmo lugar,

Onde tudo sempre foi Amor.

Nos reencontramos na chegada

para esquecer a partida.

Haverá outras viagens 

Outros dormentes e outras pedras nos trilhos

Haverá curvas  o nascer de uma nova jornada.

Mas sempre o mesmo amor.

Passando em encontros e despedidas. 

Olhos - I

E  aqueles olhos?

A pele macia, branca, aveludada. Desnuda.

Aurora que repousa sobre a cama.

Olhar.

E aqueles olhos?

Viram tantos segredos,

Tantas cenas. 

Pernas e abraços.

E aqueles olhos?

Fechados, pensando, pensando em nós.

Esperando, crendo, firmado.

Sonhos em um só nó.

E aqueles olhos?

Sorrindo, alegres, festejos.

Do olhar de criança. Mulher.

Dorados cabelos no azul do céu.

E aqueles olhos?

Esperança de voltar, ficar e adormecer,

Em meus braços, dados ou envoltos.

Corpo. Alma.

E aqueles olhos?

Espelhos d'alma. Do tempo.

Os olhos não envelhecem os sonhos,

não enrugam as paixões. 
Os olhos não mentem.

Olhos... quantos ainda dizem "vem me buscar"?

Olhos e olhares, quantos ainda me dizem "amor"?

Da íris encantada,

Solícita de prazer.

Do beijo.

Da festa. Da cama.

Das margaridas olhadas com a alma. Alma dos olhos.

Dos copos de leite, testemunhas oculares de tantos olhares,

Da porta do quarto ainda entreaberta.

Das miniaturas na cozinha, 

Do jantar de olhos nos olhos,

Da mesa posta e da cama desarrumada.

Quantos olhos me tem ainda de olhos fechados.

E aqueles olhos, onde estão?

Na cama do inverno

ou na  varanda do verão?

Olhos.... Donzela  aveludada, desnudada, prazerosa.

AMOR COMO NUVEM

São como nuvens que se forma no ar.

São como nuvens no céu a plainar

Amor, nosso amor é  como nuvem a dispersar.

Mas não fiques triste, 

Amanhã  bem cedido,

Ela vem de novo a se formar.

foto da minha amiga Riva

Distâncias

Somos a distância não dita, 

A vontade não feita

A despedida não finalizada.

Somos a dimensão do improviso

Das palavras  e significados

Somos feito de desejos e vontades

A nossa pele ainda geme

E o nosso coração ainda pulsa ,

Á tarde nos desejamos 

O que a distância não traz

Mas a lembrança satisfaz

Somos o que foi, o que era...

Somos o até logo.

Somos trilhos em caminhos diferentes

Somos assim

Eu em você e você em mim. 

Mesmo quando há distâncias em nós

APRENDI

Aprendi que não importa o quanto se anda, sempre haverá uma distância a ser percorrida em nossas vidas. Que não importa se andamos correndo ou devagar demais, o tempo não muda por conta disto. Aprendi que amor é mais o que sentimos do que queremos receber, e que se amamos de verdade não existe limitações para se doar. Que quem sofre de amor é porque ama de verdade. Aprendi que olhar nos teus olhos é mais importante que olhar para a nossas diferenças, nossas ideologias, nossas experiências de vida. Que olhar nos teus olhos posso aprender mais de mim do que de você. E que se fixar bem os olhos posso até esquecer quer existe uma distância tao grande que nos separa. Aprendi que está no centro não pode ser uma coisa boa pra sempre. Que equilíbrio é como andar: Desequilibramos para equilibrar de novo. Que Sair da Centralidade das nossas vidas é poder experimentar novos sentimentos, novas situações que normalmente na centralidade evitamos. Aprendi que existe mais sonhos em minha vida do que as realizações que tive. E se posso sonhar é porque estou vivo, estou te amando... Nada pode ser melhor do que aprender com a vida, com você e com meus sentimentos. Aprendi a ser exagerado no que escrevo, talvez assim posso externar tanto tempo de reclusão. Que melhor é ser exagerado do que contido. Contido sofre, morre, some, exaspera seus sentimentos Aprendi que ansiedade faz parte e que posso ser tao ansioso quanto possível. Aprendi que posso errar, e dai se erro, todos erram e não estão nem ai pra nada. Nem pra mim, nem para você. Aprendi a não cobrar tanto de mim e que não posso pagar nada.  Aprendi que posso chorar e que choro não me diminui, mas me faz sentir lavado. Aprendi a sentar no chão e simplesmente não fazer nada, não ouvir nada, não falar nada, não ser nada. É o meu momento comigo. Aprendi que posso ser seu príncipe ou posso ser seu monstro, isto vai depender de como você me vê. Aprendi a aprender. A ser louco e apaixonado. A ser lúcido e desavisado. E que a vida não é a vilã, mas a saudade.. Aprendi que a morte não acaba com a vida, mas renova, restaura e move.. Aprendi que você pode nunca ser minha, mas jamais deixará de ser a Cinderela dos meus sonhos. Aprendi que amar você é muito bom. E que não tenho medo disto, pelo contrário me faz ser feliz. 

Texto publicado 05/09/2008 

PERMITA-ME

Permita-me lembrar-te da noite passada.

Suas palavras regadas a emoções.

Palavras molhadas ao prazer dos amantes.

Permita-me ousar em identificar seus sussurros. "Ama-me", "toque-me", "abraça-me".

Permita-me dizer que nos teus olhos fechados há mais revelação que quando abertos.

Sons às escondidas.

Tons em meio tom.

Permita-me lembar-te dos teus desejos,

Áurea e ampla de pensamentos sensoriais,

De pele,  de pelo, de toque, do gosto.

Somos assim. Vivos de vontades. Vivos de prazer. 

Permita-me lembrar-te dos meus toques, 

Sonhos que se pode sonhar ainda acordado, percebido, desejado.

Das minhas palavras e das tuas respostas.

Dos escondidos olhos e revelados.

Dos lençóis amarrotados, desarrumados. 

Permita-me.

Permita-me recordar dos anos longínquos,

Ainda são anos reais,

Ainda são desejos vitais

Que permeava a mim e a ti 

Vendaval de emoções lembradas, caladas, contidas.

Permita-me relembrar que os sonhos ainda vivem,

Pois desejados ainda são. 

Das tulipas no quarto,

Do sofá da sala de estar, 

Das miniaturas da cozinha,

Do "seja Benvindo a este lugar".

São todas recordações permitidas sem permissão. 

Permita-me?

Não dizer adeus no dia seguinte, 

Somente para viver novamente esta nossa paixão.

Caminhos

Entre o pó e as pedras, caminho no caminho.

Que não criei, apenas sigo. Olhando meu caminho.

Há curvas, subidas e descidas. Todas em meu caminho.

Pessoas passam. Entra em sai deste meu caminho

Já vivi dias de chuvas e temporal

Já dormir acordado e amanheci em outro caminho

Mas caminho que sou, torno a voltar noutro dia.

Já vivi  a secura da vida

Já vivi a chuva serôdia todos os dias

Colhi fruto, plantei sonhos e viajei

Tive amores de olhos nos olhos, todos  pelo caminho

Tive beijos, noites e luas.

Tive quem me teve e seguimos nossos caminhos

Que hoje cada um vive sozinho, no seu próprio caminho.

Entre pó e as pedras, caminho no caminho

Que Deus preparou para nunca estar sozinho

Pois caminho tem curva, tem retas para encontrar 

outros caminhos.

Desejos

Afloram em  mim desejos ternos de você.

Coisas assim que dizemos a lua e as estrelas do céu. 

Afloram nossos braços, abraços de ontem  a tardinha, 

Sorrisos da minha chegada. Tristezas da nossa partida 

Lembrança realizada em teu quarto de dormir.

Cama que morei 

Teus Olhos que me viram de alma nua

Teus lábios ainda estão úmidos pelos meus beijos. 

Afloram noites com sol

Afloram a beleza dos nossos girassóis.

Onde só tem amor

Vem me beijar de novo

Vem livrar do abandono

O meu coração já tem dono

Vem apossar de mim neste outono

Onde só tem amor

Vem me beijar de novo

Vem livrar do abandono

O meu coração já tem dono

Deixa o amor te levar

Dias assim  de outono

Afloram em mim desejos ternos de ter

você.

Impressão

Seus beijos e seus olhares
Suas mão em minhas mãos.
Impressionante detalhe.
Impressão.
Realidade.

Cotidiano aos 80 - Sendo útil na inutilidade

Acordei como todos os dias com vontade de fazer xixi. Velhos tem uma vontade descomunal de fazer xixi pela manhã. Fui ao banheiro e vi o recado no espelho " papai hoje é dia de médico. 

Sim, eu já citei esta frase recentemente, mas isto é uma rotina que já foi anual, semestral e agora é mensal. Pelo menos uma vez no mês tenho que ir ao meu médico para ele fazer as mesmas perguntas do mês anterior. " O senhor se sente bem? Tem ido no banheiro regularmente? Como está a dieta que passei? Que bom hein, nesta idade e ainda não toma nenhum remédio para pressão". Ele deve ter Alzheimer,  para esquecer que me falou isto no mês passado.

Eu comecei o meu curso de fisioterapia, numa sala cheia de jovens, na sua maioria mulheres. Todos estranharam o primeiro dia em que cheguei e me assentei na primeira cadeira da fileira da janela. Ficaram em olhando espantados. Foi quando veio uma jovenzinha de cabelos bem pretos, deve ter entre seus 18 a 20 anos e me perguntou se eu era o professor, eu disse que não. " então o senhor é o reitor?" não não sou o reitor.  E antes que ela perguntasse se eu era o faxineiro eu respondi. Sou aluno novo, bem.. não tão novo assim, como pode perceber.

Acredito na inutilidade das coisas. Pessoas são inúteis. A maioria das coisas que nos cercam são inúteis e certamente o pensamento mal elaborado é de uma inutilidade tremenda. 

Eu resolvi me colocar a disposição daqueles jovens que estavam começando a vida. Talvez na minha inutilidade aos oitenta, pudesse ser de alguma forma útil para eles. Tornei-me da "galera". Vou nas festas e tomo suco. Comemos pizza na sexta-feira depois da aula.

Passaram-se meses do curso e eu estava bem assentado na turma. Mas velho no meio de jovens é referencia para tudo. 

" olha como ele esforçado. Ele não precisava estar aqui. Esta aqui porque não tem nada para fazer em casa". Referência

Um bom velho tem que ficar em casa, dormir e acordar esperando a inutilidade da morte matar a inutilidade da sua vida inútil.  Comigo não funciona assim, Eu ainda posso ser muito mais. 

Minha filha diz que eu não vou aguentar o curso todo, eu respondi que não tenho que aguentar nada. A vida já me aguenta a muitos anos.

Um dia destes sai de casa com meu material e fui para aula de anatomia. Fiquei chocado quando vi o que somos e o que nos tornamos. A morte passou perto de mim e soprou no  cangote o ar frio.  Mas como não há como fugir, vou engando-a de pouquinho em pouquinho.

Anatomicamente eu sou um homem de oitenta anos que já viveu muitas coisas nada anatômicas e que o encaixe pode não ser perfeito, mas foram necessário. 

Casei-me cedo e fiquei viúvo cedo. Tive dessabores e muitos amores, mas as cartas escondi todas.  

Bom ta na hora de fazer xixi de novo e minha filha não para de buzinar. Ela cismou de me levar para as aulas duas vezes por semana. Eu tive que concordar para deixá-la confortável. 

Pai, disse ela,  o senhor está feliz com esta vida sozinho?  

Eu sou feliz na inutilidade da minha velhice. E você minha filha, é feliz com na inutilidade da sua vida?

Ela respondeu, com um sorriso que sim, mas na verdade não sabe, porque ainda o sopro da vida não lhe passou.

Bom sobre o curso, eu me formei em fisioterapia e sou o fisioterapeuta mais velho que conheço, mas não quero tomar a vaga de ninguém. 

O bom do curso que conheci  Maria, uma sexagenária linda e estou trocando emails. Agora sei mandar email e tenho um celular que pode mandar mensagem para ela. Minha filha e meu neto me ajudam. 

Não estou apaixonado, porque paixão torna o homem inútil aos oitenta. Estou gostosamente enamorado. 

Aos oitenta, precisamos falar muito, dormir pouco e fazer muito xixi. O médico recomenda... 

Saudades

É um daqueles beijos que você deveria ter esquecido, mas que "hollywoodicamente" vai te perseguir por um bom tempo.

Beijos dados às pressas, sem nenhuma pretensão de marcar a gente. Beijos perigosos de inverno.

Ela me olhou com tanto prazer que me fez tremer as pernas e pulsar o coração.

Será que em meio a tanta despedida, sobra tempo para a emoções passadas?

Sei da solidão das palavras que precisam se juntar para dar sentido a vida de alguém

Sei também que estas mesmas palavras  são a ruína quando ditas nas despedidas às pressas. Ainda bem que temos os beijos  perigosos de inverno. Ainda bem.

Que lembranças teríamos de nós mesmos?

Que beijos falam mais que palavras, isto eu sei. Ela disse adeus com as palavras, mas com o beijo há um exarcado de contradições 

Incompreensível denotação 

Incompreensível denotação

Encerro meus pensamentos nos pensamentos teus. Dos beijos e do silêncio que faras, depois de ler estes versos saudosos de quem ficou na plataforma esperando o trem chegar..

Devir

O que somos?

Somos dualidade

Ora em paz

Ora em guerra

Ora somos a alegria

Ora a tristeza profunda

Ora temos no olhar a esperança

Ora o desalento fino do devir

O que somos?

Somos uma construção de sentimentos

Réplica inacabada de nós mesmo

Então o que nos alegra ou nos entristece, é apenas  ferramentas da nossa construção interior

ENTÃO AS PÉTALAS ESTÃO NO CHÃO

Há um ritual demasiadamente estranho na vida. O de nascer, florir, murchar e morrer. Ciclo estranho este.
A beleza das flores que desabrocham suas pétalas pela manhã, tem o seu brilho reluzido no olhar do poeta, do amante, do amado, da criança, do velho, das aves do céu... todos a um só olhar, contempla a relação de beleza que nela existe. Cada um com o seu símbolo próprio. As pétalas em seu conjunto harmônico formam  flores cortejadas por todos.

Cada amor tem sua flor . Amores novos mantem o vigor da pétalas. Amores de meia idade mantém as pétalas opacas, mas ainda preso na flor. Há amores que passam e o que se vê são pétalas no chão.
Onde estão  suas pétalas?

As pétalas caíram como caem os amores. Não se trata de substituição, se trata de amor vencido, amor desbotado, remendado a duras conversas nas madrugadas chorosas.
Amores e pétalas se misturam no jardim da vida. Cada uma ama e preserva o amor que tem.

Mas o que fazer quando as pétalas caem. Acabou-se o amor? Claro  que não.
Quem ama com satisfação, não adota uma única rosa no seu jardim,  adota o jardim inteiro. Cada flor é para o seu amor.
Quem de mim ama, tem flores de várias estacões, porque amor passa pelas variações do ano.
A rosas falam, os amores também.
E as pétalas no chão  representa aquilo que um dia foi dedicado ao amor da vida de alguém
Outras flores nasceram e renovará o amor de uma vida toda.
Que haja muitas flores em você no dia de amanhã

Cotidiano aos 80 - Quando a vida ainda te chama

Aos oitenta anos você já viveu muitas coisas na vida. Já viu muita gente e presenciou muitos acontecimentos bons e ruins. Aos oitenta muitas velas se apagaram e muitas outras se acenderam. O que quero dizer é que eu já podeira dizer que sei das coisas, mas infelizmente não sei. 

Dia destes fui ao consultório, e abro aspas aqui para dizer que geriatria não é coisa de gente velha? Então,  se é assim veja bem o que eu encontrei neste dia em que fui ao geriatra. 

Acordei como todos os dias com vontade de fazer xixi. Velhos tem uma vontade descomunal de fazer xixi pela manhã. Fui ao banheiro e vi o recado no espelho " papai hoje é dia de médico. Passo às oitos para te pegar. Beijos Ana" . Minha filha mais nova tem estas coisas de deixar bilhetes pela casa. Eu estou velho, não com Alzaimer, lembro de tudo muito bem. Corpo e Mente estão ótimos. 

Ela passou impreterivelmente atrasada, já era oito e quarenta e cinco quando, eu já cansado de esperar, ouvi a buzina do carro. Chegamos ao consultório e sentei-me na sala de estar, que de estar não tem nada. Imagina colocar revistar com letras microscópicas para velhos lerem.

Na sala tinha uma garotinha e um garotinho sentado, acho que  a medicina já está adiantando as consultas no geriatra para as pessoas, pensei eu rindo por dentro. 

O garotinho de uns quatro a cinco anos veio em minha direção e olhou-me com aquele olhos novos de quem vai fazer alguma pergunta. E fez.

- O senhor da doente?

- Não eu não estou doente.

- Se não está doente porque veio aqui. Meu avó está doente e veio ver o doutor.  Disse o garoto já com a mão na minha perna. 

- É, mas eu não estou doente. Mas temos que vir aqui para ver o médico para não ficarmos doentes. 

- O senhor  tem namorada? Perguntou a garotinha.

Minha filha deu uma gargalhada e dizendo - Não ele não tem namorada queridinha, ele é viúvo. 

Neste momento percebi que minha filha me via como um velho viúvo.

Bom para abreviar a história fiz a consulta e voltei para casa pensativo de que eu estava numa fila esperando a morte chegar. Fila esta que contempla as pessoas sem projetos e perspectiva ( gosto da sonoridade desta palavra - Pers - Pec- Ti- Va), mas enfim, eu notei que eu não tinha mais a chamada perspectiva de vida. 

Noutro dia, caro leito, acordei cedo, com vontade de fazer xixi. Coloquei o tênis, meia na canela, camiseta e fui para minha caminhada matinal com uma perspectiva de ver a vida de modo diferente. 

A vida ainda te chama  - disse para mim mesmo.

O que um velho de oitenta anos ainda deseja ver? 

Desejo se útil. Desejo ter perspectivas. Desejo descobri coisas. 

Durante a  caminhada deparei-me com um anuncio de uma faculdade de fisioterapia. Olhei e pensei, porque não?

Voltei para casa, peguei o telefone e liguei para saber  sobre inscrições e coisas mais. 

- Bom dia - disse a atendente com voz jovial

- Bom dia - eu gostaria de sabre como faço a inscrição no curso de fisioterapia 

- Você precisa acessar nosso site e preencher o cadastro único com sua nota do ENEM  

- Só isto?

- Sim. 

- E, se eu não tiver prestado o ENEM, tem outra forma?

- Você pode fazer um vestibular escrito, prova, entende, ai é só esperar o resultado. 

Depois de muitos detalhes e muita informação anotada, resolvi ligar para Ana para solicitar ajuda

A vida me chama. 

Ana ficou estática quando eu disse que iria me matricular no curso de fisioterapia
- Papai, o senhor não tem idade para fazer um curso destes. Eu entendo que o senhor sente-se sozinho, mas há muitas outras formas de preencher o tempo. Porque o senhor não entra num destes grupos de terceira idade. Eu levo e busco
- Terceira idade?  Acaso vou jogar gamão,  fazer palavras cruzadas e falar dos netos e filhos e da saudosa vida que vivi?
- Mas não é só isto, tem viagens, tem  palestras com médicos ....
- Ana - interrompi - Eu vou fazer o curso, só queria que você me explicasse  como eu faço a inscrição, somente isto não é o aval que estou precisando.
Ana ficou paralisada e disse que ajudaria no que fosse possível. Ligou para a faculdade procurou saber dos detalhes e passados alguns meses e prova e nota   eu iria começar o curso no  próximo semestre.
A vida ainda te chama.
Primeiro dia. Acordei com vontade de fazer xixi. ( já expliquei porque)
Arrumei todo e dispensei Ana e sua carona,  queria eu mesmo ir, e fui

continua....

Mais uma True Story

Bem que podia ser uma daquelas boas viagens em que tudo que você pretende é se divertir com a família e nada mais. Poderia, mas o divertimento é coisa muito pessoal, pois o que é divertido para mim, necessariamente não pode ser para você. Sim você mesmo que está curioso ai lendo este texto e esperando aquela historia derradeira que vai te matar de rir. Mas para mim pode ser a história mais constrangedora  e não  me matar de rir, mas de vergonha. Bom vamos deixar as contraposições de lado e passar a narrativa que tanto te interessa, não é mesmo?

Eu sempre gostei de aventuras em locais diferentes. Descobrir coisas novas em locais novos ou velhos, tanto faz. Mas gosto de mato (praia também). Pois bem, esta história se passa lá pelas bandas de ou do Goiás ( pois tem gente que fala "do Goiás", já outros preferem "de Goiás") numa destas minhas aventuras que sempre trago boas e más recordações.
Resolvi visitar a Chapada dos Veadeiros. Olha se você for visitar tome cuidado com o que vai pedir, nem sempre o que parece ser é de fato. 

Saímos de Brasilia bem cedo. Destino,  cidade de Alto Paraíso, lá no estado de Goiás. Mas antes de contar a minha desaventura, deixa te contar um pouco da true story que me falaram do lugar.

A cidade foi invadida nos meados dos anos 80 por um bando de ripes que achavam que o mundo iria acabar (acho que tiveram esta visão numa desta noitadas de sexo, drogas e rock in roll ) e que uma nave espacial alienígena iria salvá-los. Dai escolheram a cidade para concentrarem suas esperança, visto ser, dentro a região do planalto, a cidade mais alta. Eles queriam mesmo era ficar tranquilos com a erva, mas tudo bem, bora acreditar neles. Acontece que como infelizmente a nave do ET foi para as bandas dos EUA e nem deram as cara para saudar a sociedade alternativa ripe, o jeito foi fincar o pé por aquelas bandas de meu Deus e ali fazer a cidade ser somente de paz e amor. Muito amor diga-se de passagem, muito artesanato dos bons e muita gente alternativa. Hoje a cidade é muito visitada, sendo a porta de entrada do Parque Nacional dos Veadeiros.
 Bom, para não te cansar com esta true story da cidade, mais que o devido, o certo é que a cultura lá é totalmente voltada para este estilo de vida, diga-se de passagem a cidadezinha de São Jorge que vale visitar, mas tome cuidado, é muita gente vivendo de paz, amor e muito artesanato que é maravilhoso e tem bons restaurantes.
Bom vamos ao que interessa, afinal este não é um guia turístico, mas uma  true story.
Estava visitando uma cachoeira na Chapada em meados de julho. Água gelada, mas vale a pena entrar e se congelar naquelas águas. Lá dentro da cachoeira eu disse para meu filho - "filho ao sairmos daqui quero comer um churrasco, pois estamos no Goiás, terra do gado  e do churrasco" . Concordamos em comer o melhor churrasco  das nossas vidas. 
Água na boca e muita vontade, voltamos para a cidade de Alto Paraíso, que tem uma rua única de comércio. Começamos nossa saga de procurar uma bom restaurante que servisse a  iguaria dos deuses. Nosso bom e suculento churrasco do Goiás. Neste vai e vem avistamos um restaurante de esquina, muitas plantas, um gramado na frente dava a imponência do local. Acima do telhado uma fumacinha chamava a atenção. Eita, é churrasco. Entramos.
Entrei todo eufórico. Restaurante cheio. O salão com suas mesas estava repleto de famílias comendo e conversando. Peguei um prato na mesa e comecei a procurar a comida certa para o prato principal, o churrasco. Passei pelo arroz, coloquei um pouquinho. Passei pela feijoada que estava fumegante, esta pulei. Passei pelo strogonoff , pulei também, onde já se viu, churrasco com  esta melequeira importada. Peguei um pouco de vinagrete, meio apático, mas tudo bem o principal não seria ele, mas a suculenta carne desmanchando, com aquela gordurinha derretida a massagear nosso coroação.  Continuei e fui chegando ao final do cardápio da mesa. Olhei para o lado não via a carne. Pensei que estivesse em outro lugar. Percorri os olhos em todo restaurante e somente avistei uma moça do outro lado do salão olhando  para mim sorrindo. Foi então que eu fiz o que não deveria ter feito. disse em alta voz, "Moça, onde está o carne?". Houve um silêncio mórbido naquele local. O sorriso da moça converteu-se em cara fechada. Todos os clientes pararam sua refeição e olharam para mim. Até um bebezinho que mastigava uma cenoura me olhou com reprovação.
Mas eu insisti: "onde fica a carne?"
A resposta  foi dura e massacrante " Carne? não servimos carne" - Como não? Perguntei novamente.
Somos um restaurante vegano.
Os olhares de reprovação das pessoas foi geral. Minha cara  ultrapassou o chão e chegou a Japão, sem vontade de voltar.
"ah, vegano, nossa.. desculpa...
Dirigi para mensa com  o prato sujo de arroz e um pouco de vinagrete que nem sei se é  de fato vinagrete. Sentei-me sem acreditar.
Meus filhos que vinha logo atrás de mim riu e voltaram na fila, colocaram o que podia no prato. Feijoada para um e o strogonoff para outro. Sentaram rindo dizendo. " ainda bem que servimos feijoada e strogonoff"
A moça massacrou eles dizendo " é feijoada de tofu e strogonoff de banana " . Neste momento eu não aguentei e soltei uma gargalhada que todos do salão riram junto, até o bebezinho da cenoura.
A moça rindo disse o que posso fazer é servir ovos de mentirinha. Ovos de mentirinha ? Então faça-me um favor, sirva quatro ovos de mentirinha acebolado. Pelo menos dá a impressão de ser bife acebolado.
Esta true story aconteceu lá pelas bandas do Goiás. Então se for visitar a Chapada dos Veadeiros, lembre-se de não pedir carne nos restaurantes em voz alta.
Até a próxima

Olhos grandes, negros como o café daquela tarde.
Lábios grossos, molhados ainda com a última gota doce daquele café
Entre gestos, pensamentos e conversas, o universo de um conto de fim de tarde paira sobre aquela mesa.
Talvez foi o acaso, talvez foi apenas uma caneca usada, coisas que não se esquece
Teus olhos nunca negaram a tua capacidade de se reinventar. Menina e Mãe. Mulher.
Teus lábios. Gosto dos teus lábios... em dias que confabulamos nossas histórias, nossos cafés

Há talento em teu jeito de ser
Há uma mulher embrulhada com papel de presente
Há um coração, que num pulsar constante, anuncia o sonho de ser mulher.

Ainda gosta dos cafés da tarde?

HÁ FLORES EM VOCÊ

Há um flores em ti.
Flores que te embeleza a alma.
Flores de uma manhã alegre e sorridente.
Há flores em teu sorriso. Sorriso que aguça vontade de sorrir.
Há flores nos teus olhos. Olhar que da vontade de olhar (não me atrevo a mirar por muito tempo).
Há flores nos teus lábios. Lábios  onde nascem beijinhos coloridos (os vermelhos lhe caem bem).
Há flores em teu cheiro ( me atrevi, sem pedir licença) .

Atrevimento meu em reparar teus detalhes.

Sua mão pequena.
Seus cabelos  ainda nos ombros.
Atrevi, sem pensar que o atrevimento nunca é descabido, mas pura vontade, verdade. Uma sensatez.

Atrevi a ver flores em você. Beijinhos, Margaridas, Begônia, Hortência...

Flores com o cheiro de você.

Há flores em seu corpo (não me atrevo)
Mas as flores que delineiam seu corpo, reluz teu cheiro.
Poros ardentes, invisíveis, sensíveis...

Há flores nas tuas palavras. São macias (atrevo a ouvir e ao ouvir-te, desejo que não pare de falar)

Há flores em teu ser.
Há flores nos teus beijos, nos teus sonhos, na tua vontade mais secreta (você não se atreve a dizer, mas deixa escapar pelas frestas das pétalas)
Beijos que percorrem o corpo e tocam a alma ( das flores? Quem sabe?)

Quem de ti colhe, colhe linda flor... pétalas delicadas, escondidas... Reservada para quem lhe colher.
Há flores em você (quis colher. Não atrevi) flores que me cheiram tão bem

OUTRO LUGAR - MILTON NASCIMENTO

https://www.youtube.com/watch?v=0XIpU60x-IY&list=RD0XIpU60x-IY&start_radio=1&t=14

cê sabe que as canções são todas feitas pra você
E vivo porque acredito nesse nosso doido amor
Não vê que tá errado, tá errado me querer quando convém
E se eu não tô enganado acho que você me ama também

O dia amanheceu chovendo e a saudade me contêm
O céu já tá estrelado e tá cansado de zelar pelo meu bem
Vem logo que esse trem já tá na hora, tá na hora de partir
E eu já tô molhado, tô molhado de esperar você aqui

Amor eu gosto tanto, eu amo, amo tanto o seu olhar
Andei por esse mundo louco, doido, solto com sede de amar
Igual a um beija-flor, que beija-flor,
De flor em flor eu quis beijar
Por isso não demora que a história passa e pode me levar

E eu não quero ir, não posso ir pra lado algum
Enquanto não voltar
Não quero que isso aqui dentro de mim
Vá embora e tome outro lugar
Talvez a vida mude e nossa estrada pode se cruzar
Amor, meu grande amor, estou sentindo
Que está chegando a hora de dormir.