terça-feira, 7 de dezembro de 2010

PARA DIZER ADEUS

Para dizer adeus é preciso ter um novo caminho. É preciso ter força no coração para deixar de lado o desejo por um beijo seu que envolver a alma.
Para de dizer adeus tem-se que arrancar a última chama do desejo de ficar. Quebrar paradigmas e desejar o novo, ainda que seja temeroso dizer um adeus definitivo.
Para dizer adeus tem-se que rasgar as fotos na escrivaninha. Tem que apagar as músicas da memória (músicas falam muito sobre você). Necessário arrumar outra inspiração para os textos diários e programar a vida sem seu olhar, sem seu sorriso, sem sua presença distante.
Para dizer adeus aos teus beijos, ao teu olhar (e como amo teu olhar), tem que segurar as lágrimas nos olhos, manter-se firme e saber que a vida continua e as pessoas seguem seus caminhos. Que esperar um final feliz é utopia; que sonhar com seus lábios nos meus lábios é improvável.
Feliz é quem não tem que dizer adeus a quem se ama. Feliz é quem tem sempre um recomeço sem ter que dizer adeus.
Hoje as coisas são mais necessárias que urgentes. Coisas urgentes não fazem parte da necessidade de quem precisa ir embora.
Hoje amanheci sem saber dizer bom dia. O dia, nosso dia disse adeus também. O amanhã não se pode valer da tua presença. Urgência é te querer cada vez mais. Urgência é não ir embora. Urgência é matar minha vontade de ser totalmente seu. Urgente é meus lábios nos teus lábios, meu corpo no seu corpo, meu coração para o seu coração.
Há riscos em dizer adeus. Às vezes adeus é coisa rápida. É quase um “ate logo”. Às vezes adeus é definitivo e sem volta. Às vezes é só um charme do ato de enamorar. Às vezes é sem pensar, sofredor, imaturo, desprovido do raciocino normal.
Para dizer adeus a quem se quer tanto, o coração sai machucado e as esperanças tolhidas. A alma chora e a solidão vira amiga.
Para dizer adeus rompem-se as barreiras do querer ficar e vai-se ate o fim da última palavra dita na plataforma do trem. Adeus. Um olhar, uma saudade sem ao menos ainda ter ido de fato.
Dizer adeus é abrir a ferida da saudade, do deixar-se sozinho e sem calor. É suportar as noites frias, os ventos fortes e a estrada longa. É abraçar sem ser abraçado. É solitário, vazio necessário. É andar errante em meio a tanta gente. É deixar para trás quem se quer ter junto, pertinho... ao alcance dos lábios, dos sonhos, da vida.
A vida não deveria ter adeus. Adeus é coisa chata, triste e sem retorno. Adeus tira a esperança de um retorno. A vida deveria ter apenas ate logo, até outra hora, outro dia, outro beijo. Beijo, como desejo seus beijos nesta última despedida. Queria um beijo fácil que apenas seguisse o instinto dos nossos corações. Queria apenas um beijo real para não dizer um adeus definitivo.
Beijo tem sabor de recomeço. Tem sabor de amor novo, amor ainda não dito, não falado, apenas sentido, vivido e marcado. Beijo não é despedida. É volta, é recomeço, é vida vivida boca na boca, alma na alma.
Então se pra dizer adeus tem que viver sufocado, engasgado com a vontade de não querer ir. E se a necessidade fala mais que a urgência. Que vale mais: a minha ida ou a minha sorte? Sorte de ouvir ainda. Fica meu amor.

Alexandro Candido