domingo, 30 de junho de 2013

Hoje abro um parêntese em meus textos tradicionais, normalmente voltado para as coisas do amor e me proponho a escrever sobre um fato que aparentemente poderia ser normal, mas que me chamou muito a atenção ontem. 
Obrigado àqueles que, como eu, gostam de ler e observar a vida em detalhes.

 O Bolo

Olhos vidrados, brilhantes em um rostinho sujo. Cabelos secos desarrumados. Um corpo pequeno para olhos tão grandes. Assim era aquele menino parado, segurando com mãozinhas sujas o balcão de vidro  ao lado do pai. A mãe tentava conter o garoto que simplesmente não parava de olhar e salivar sobre a figura daquele bolo de aniversário ali na vitrine. 
Eu estava parado ali observando aquela cena inusitada. Eles pareciam cansados, talvez tivesse trabalhado nas ruas catando latinhas ou papeis, isto não sei,  mas aquela família me chamou a atenção quando o pai disse pra atendente:

- Moça, eu ontem vim aqui e olhei o preço  deste bolo de aniversário e você me disse que custa R$ 40,00 e hoje vim comprar. É aniversário do meu filho - disse ele orgulhoso colocando a mão na cabeça do garoto, como se fosse seu troféu.

 - Sim eu lembro do senhor - respondeu a mulher sem nem olhar na cara do homem. - Mas este aqui custa R$ 50,00

O homem parece que não acreditou ele contou e recontou as notas amassadas e as moedas. Suas mãos sujas relatava que ele havia trabalhando muito naquele dia.

- Mas porque aumentou? Eu estive aqui ontem e juntei o dinheiro hoje. É aniversário do meu filho, entende

- Senhor o bolo é calculado por peso e este aqui é mais pesado do que o outro.  

Ás vezes tenho a impressão que o ser humano se torna insensível não pelo fato de ser ele desprovido de sensibilidade, mas porque simplesmente ele não observa detalhes importantes na vida.
Tudo que aquele homem queria era o bolo. Era aniversário do filho e quem é pai sabe o quanto vale o sorriso de uma criança quando vê o bolo com uma vela acesa em cima da mesa. O momento se torna mágico.  O bolo de aniversário tem este dom - Fazer simples crianças em anjos de Deus.
Por mais que o homem contasse o dinheiro não dava. Sem o bolo, sem felicidade.
Imagine você no lugar daquele pai. Imagine ver os olhos do seu filho brilhantes de felicidade se tornarem secos e sem cor.

- Pai, disse o menino  - Não vai dar pra levar o bolo não?
- Vai sim filho - respondeu desolado o homem sem saber o que iria fazer.
- Pai não tem importância se não tiver bolo - falou o menino agarrando na perna do pai com uma ternura imensa por ver a desolação daquele homem-sem-bolo. Homem sem felicidade familiar.

E como seria o aniversário daquela família pobre sem aquele bolo. Este pensamento invadiu meu ser. Não teria o apagar das luzes, pois não haveria o ascender das velas. Não teria o cantar dos Parabéns, anunciando a nova idade, porque simplesmente não teria o bolo. 
Quantos bolos ainda serão privados aquela pobre família ao longo da vida?
Mas eles tem algo mais que o dinheiro e bolos de aniversário jamais comprarão. Eles se amavam.
O filho agarrado nas pernas do pai. O pai com as mãos no ombro da mãe e a mãe dizendo: Vamos gente, não podemos comprar este bolo.

Talvez você esteja pensando porque eu não comprei aquele bolo?
A resposta é a seguinte: O que a sua mão esquerda faz a direita não precisa ficar sabendo.

Posso dizer que aquele aniversário não foi sem bolo, nem sem velas e muito menos sem alegria e amor para aquela pobre família. 

Então o que aprendi com esta cena e que não importa o quanto custe o bolo do seu filho e nem o quanto é importante pra ele. Ele sempre vai agarrar nas suas pernas quando não puder comprar  dizendo: Pai eu te amo, mesmo sem o bolo.


Beijos a todos e muitos bolos de aniversário 

Alexandro Cândido