quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Terra Molhada




Quem nunca sentiu cheiro de terra molhada? É delicioso, original e inconfundível. Lembro-me do quintal da minha casa. O cheiro da terra quando a chuva caia e molhava aquele solo seco e poeirento. Eu ficava debruçado na janela observando os pingos caírem no chão duro e seco exalando aquele cheirinho delicioso de terra molhada. Misturado a este cheiro vinha o cheiro das telhas francesas molhadas que tinha também um peculiar cheiro. Os pingos batiam nas telhas e os respingos caiam dentro de casa. Mas caia também o cheiro...

Como o tempo passa rápido em nossas vidas e acabamos por não dar o valor necessário para cada momento, cada instante, cada cheiro, cada gosto, cada abraço, cada lágrima, cada sorriso. Aquela terra molhada me fez relembrar um tempo de privações, de limitações, mas também um tempo de ingenuidade, de felicidade simples em observar aquela terra seca sendo molhada. Pensava que o cheiro era uma forma da terra dizer obrigado à chuva por regar e restaura-lhe a textura de barro. Tempo de cheiro de vida.

Sempre esperava a chuva parar e saía descalço de casa para pisar naquela terra molhada, fria e cheirosa. Pisava e sentia o barro entrar por entre os dedos e ficava ali sentindo o barro nos pés. Achava que minha mãe não gostava de barro, pois sempre me dava bronca depois que entrava em casa.

Hoje ao sentir o cheiro da terra molhada me transporta para um outro mundo que vivi. Mundo da minha infância, mundo dos meus cheiros de criança.


continua...
ps. Que cheiro te lembra alguma coisa. Escreva ai

terça-feira, 15 de dezembro de 2009



Cheiro sempre foi uma coisa que me fascina. Eles sempre me acompanharam a vida inteira. Hoje os cheiros da minha vida sempre trazem lembranças boas de momentos simples ou não. E cada cheiro me reporta a uma instância da vida. Momento que eu vivi e que muitas vezes eu nem lembrava mais. O cheiro me faz lembrar exatamente do local, do momento, se era dia ou noite...

Gostaria de enumerar alguns destes cheiros que estes dias senti:



Folhas de Mangueiras Quimada

Lembro-me do momento mais primário da minha infância e quando morávamos numa simples casa de telhas francesas, sem forro interno e pintado a cal. Lembro-me como era o dia que se pintava às casas do lote. Colocava-se água num tambor e jogava a cal lá dentro que fervia. Engraçado que a cal era escura e eu não entendia como ficava branquinho depois de mergulhado na água. Mas voltado ao cheiro da folha da mangueira queimada, a gente varria estas folhas e queimava todas juntas a noite, pois elas estavam quase secas e fazia um fogo meio avermelhado e a meninada brincava de pular o fogo. Eu ainda pequeno só ensaiava, não dava para pular. Fascinação aquele fogo, aquele cheiro, aquelas folhas queimadas.

Folha de manga queimada tem cheiro peculiar. Tem cheiro de molecada, de infância vivida com pés descalços e muitos sonhos na cabeça. Eu me lembro através do cheiro da minha infância, as mangas chupadas ali no pé. Mangas ainda quentes pelo sol.

As folhas das mangas serviam para várias brincadeiras. A gente fazia saia amarrando as pontas dos talos da folha a um barbante de saco de linhagem, colocando as folhas lado a lado que formavam saias para as meninas que se vestia de índias e se pintavam com urucum. As folhas também serviam para fazer nossos dinheiros de brincadeira. As folhas maiores e amareladas valiam mais. As verdinha pequenas valiam menos. Não entendia porque não tinha moedas em nossas brincadeiras e nem porque eu sempre ficava com as notas verdinhas. As folhas também serviam, depois de juntadas várias delas e colocadas num saco de linhagem, formavam o colchão em nossos acampamentos improvisados no fundo do lote. Passamos certa vez uma semana dormindo lá na barraca improvisada com plástico preto e pedaços de pau.

Quando passei por aquela fumaça da queima da folha da mangueira eu fechei os olhos e me transportei para aqueles anos simples, mas deliciosos de se viver. Bentida era a folha das mangas que de uma forma que não sei explicar produziu um saudoso e delicioso prazer de voltar à minha infância.


continua....