terça-feira, 10 de março de 2020

Mais uma True Story

Bem que podia ser uma daquelas boas viagens em que tudo que você pretende é se divertir com a família e nada mais. Poderia, mas o divertimento é coisa muito pessoal, pois o que é divertido para mim, necessariamente não pode ser para você. Sim você mesmo que está curioso ai lendo este texto e esperando aquela historia derradeira que vai te matar de rir. Mas para mim pode ser a história mais constrangedora  e não  me matar de rir, mas de vergonha. Bom vamos deixar as contraposições de lado e passar a narrativa que tanto te interessa, não é mesmo?

Eu sempre gostei de aventuras em locais diferentes. Descobrir coisas novas em locais novos ou velhos, tanto faz. Mas gosto de mato (praia também). Pois bem, esta história se passa lá pelas bandas de ou do Goiás ( pois tem gente que fala "do Goiás", já outros preferem "de Goiás") numa destas minhas aventuras que sempre trago boas e más recordações.
Resolvi visitar a Chapada dos Veadeiros. Olha se você for visitar tome cuidado com o que vai pedir, nem sempre o que parece ser é de fato. 
Saímos de Brasilia bem cedo. Destino,  cidade de Alto Paraíso, lá no estado de Goiás. Mas antes de contar a minha desaventura, deixa te contar um pouco da true story que me falaram do lugar.
A cidade foi invadida nos meados dos anos 80 por um bando de ripes que achavam que o mundo iria acabar (acho que tiveram esta visão numa desta noitadas de sexo, drogas e rock in roll ) e que uma nave espacial alienígena iria salvá-los. Dai escolheram a cidade para concentrarem suas esperança, visto ser, dentro a região do planalto, a cidade mais alta. Eles queriam mesmo era ficar tranquilos com a erva, mas tudo bem, bora acreditar neles. Acontece que como infelizmente a nave do ET foi para as bandas dos EUA e nem deram as cara para saudar a sociedade alternativa ripe, o jeito foi fincar o pé por aquelas bandas de meu Deus e ali fazer a cidade ser somente de paz e amor. Muito amor diga-se de passagem, muito artesanato dos bons e muita gente alternativa. Hoje a cidade é muito visitada, sendo a porta de entrada do Parque Nacional dos Veadeiros.
 Bom, para não te cansar com esta true story da cidade, mais que o devido, o certo é que a cultura lá é totalmente voltada para este estilo de vida, diga-se de passagem a cidadezinha de São Jorge que vale visitar, mas tome cuidado, é muita gente vivendo de paz, amor e muito artesanato que é maravilhoso e tem bons restaurantes.
Bom vamos ao que interessa, afinal este não é um guia turístico, mas uma  true story.
Estava visitando uma cachoeira na Chapada em meados de julho. Água gelada, mas vale a pena entrar e se congelar naquelas águas. Lá dentro da cachoeira eu disse para meu filho - "filho ao sairmos daqui quero comer um churrasco, pois estamos no Goiás, terra do gado  e do churrasco" . Concordamos em comer o melhor churrasco  das nossas vidas. 
Água na boca e muita vontade, voltamos para a cidade de Alto Paraíso, que tem uma rua única de comércio. Começamos nossa saga de procurar uma bom restaurante que servisse a  iguaria dos deuses. Nosso bom e suculento churrasco do Goiás. Neste vai e vem avistamos um restaurante de esquina, muitas plantas, um gramado na frente dava a imponência do local. Acima do telhado uma fumacinha chamava a atenção. Eita, é churrasco. Entramos.
Entrei todo eufórico. Restaurante cheio. O salão com suas mesas estava repleto de famílias comendo e conversando. Peguei um prato na mesa e comecei a procurar a comida certa para o prato principal, o churrasco. Passei pelo arroz, coloquei um pouquinho. Passei pela feijoada que estava fumegante, esta pulei. Passei pelo strogonoff , pulei também, onde já se viu, churrasco com  esta melequeira importada. Peguei um pouco de vinagrete, meio apático, mas tudo bem o principal não seria ele, mas a suculenta carne desmanchando, com aquela gordurinha derretida a massagear nosso coroação.  Continuei e fui chegando ao final do cardápio da mesa. Olhei para o lado não via a carne. Pensei que estivesse em outro lugar. Percorri os olhos em todo restaurante e somente avistei uma moça do outro lado do salão olhando  para mim sorrindo. Foi então que eu fiz o que não deveria ter feito. disse em alta voz, "Moça, onde está o carne?". Houve um silêncio mórbido naquele local. O sorriso da moça converteu-se em cara fechada. Todos os clientes pararam sua refeição e olharam para mim. Até um bebezinho que mastigava uma cenoura me olhou com reprovação.
Mas eu insisti: "onde fica a carne?"
A resposta  foi dura e massacrante " Carne? não servimos carne" - Como não? Perguntei novamente.
Somos um restaurante vegano.
Os olhares de reprovação das pessoas foi geral. Minha cara  ultrapassou o chão e chegou a Japão, sem vontade de voltar.
"ah, vegano, nossa.. desculpa...
Dirigi para mensa com  o prato sujo de arroz e um pouco de vinagrete que nem sei se é  de fato vinagrete. Sentei-me sem acreditar.
Meus filhos que vinha logo atrás de mim riu e voltaram na fila, colocaram o que podia no prato. Feijoada para um e o strogonoff para outro. Sentaram rindo dizendo. " ainda bem que servimos feijoada e strogonoff"
A moça massacrou eles dizendo " é feijoada de tofu e strogonoff de banana " . Neste momento eu não aguentei e soltei uma gargalhada que todos do salão riram junto, até o bebezinho da cenoura.
A moça rindo disse o que posso fazer é servir ovos de mentirinha. Ovos de mentirinha ? Então faça-me um favor, sirva quatro ovos de mentirinha acebolado. Pelo menos dá a impressão de ser bife acebolado.
Esta true story aconteceu lá pelas bandas do Goiás. Então se for visitar a Chapada dos Veadeiros, lembre-se de não pedir carne nos restaurantes em voz alta.
Até a próxima

Olhos grandes, negros como o café daquela tarde.
Lábios grossos, molhados ainda com a última gota doce daquele café
Entre gestos, pensamentos e conversas, o universo de um conto de fim de tarde paira sobre aquela mesa.
Talvez foi o acaso, talvez foi apenas uma caneca usada, coisas que não se esquece
Teus olhos nunca negaram a tua capacidade de se reinventar. Menina e Mãe. Mulher.
Teus lábios. Gosto dos teus lábios... em dias que confabulamos nossas histórias, nossos cafés

Há talento em teu jeito de ser
Há uma mulher embrulhada com papel de presente
Há um coração, que num pulsar constante, anuncia o sonho de ser mulher.

Ainda gosta dos cafés da tarde?