Preocupo menos com as métricas e as rimas que a vida precisa ter. A vida não é nenhum soneto e eu nem mesmo sou poeta. Assim vivo mais leve em errar combinação de humor e palavras. E há quem diga que a vida começa depois dos 40. Não concordo a vida começa quando a gente acha que deve começar. Que mal há em começar aos 80 e morrer aos 90 e assim mesmo achar que é bom?
Houve um tempo em que eu vivia temeroso em perder coisas importantes na minha vida. Hoje vejo que é uma bobagem estas coisas importantes, porque somente são importantes para a gente, não para o outro. Um belo dia você acorda morto e descobre que aquele seu livro predileto foi doado. Aquele terno caro que só usou poucas vezes em comemorações importantes, foi doado para um brechó da esquina e quem vai arrematar a peça, nem sabe o valor dela. Coisas importantes são importantes para gente. Sabe aquele amor que a gente tem por coisas? Somente a gente sente, os outros nem estão ai para nada disto. Quando a vida não for parceira neste seu corpo, as pessoas irão vender, doar ou desfazer de tudo que você juntou com tanto afinco e amor.
Prefiro coisas essenciais à coisas importantes
Decidi que não gosto mais de bolo de aniversário e nem mesmo vou mais a estas festividade familiares. Eu decidi, uai e daí?
Ando, hoje com muita dificuldade. As pernas não tem mais a força da juventude, então ando pouco e devagar.
Outra coisa que sempre detestei e hoje, na flor dos meus 80 anos dou-me o luxo é de não usar cuecas. Aquilo esquenta e atrapalha demais quando vou ao banheiro e o tremor das mãos não deixa desabotoar a calça com agilidade, ai quando consigo ainda tem a danada da cueca para baixar. Quase sempre não dá tempo.
Hoje cultivo margaridas, tulipas e copos-de-leite. Mas gosto mesmo é de Hortência. Sim Hortência com H maiúsculo. Ela sempre traz um café com leite para mim.
Quando se chega ao limite da idade, os amores passados trazem juventude ao nosso corpo já morto e vemos como desperdiçamos tempo com bobagens triviais e sentimentalistas. Desperdiçamos momentos com convicções infelizes que adquirimos da sociedade. Isto pode. Isto não pode. Amor assim, correspondido pode. Amor não correspondido, não pode. E lá se vai a juventude com tantas recomendações inúteis que se perde tempo em vivê-las.
Hoje não, o amanhecer se torna ímpar e não se pode desperdiçar nem um raiozinho, porque pode ser um último derradeiro da manhã. Neste, imperceptível, mover do tempo, damos conta de que a vida é para ser vivida e não para ser acumulada.
Tomo café quando tomo.
Banho, bastante demorado.
Ando descalço para contrariar a todos.
Gosto de tomar banho na chuva. Isto mata todos de raiva dizendo: você vai adoecer, não tem idade, e blá, blá, blá.
Detesto remédios, mas gosto de tomar, quase sempre antiácidos sabor laranja. Gosto daquelas bolhinhas aromatizadas.
Gosto de crianças, não de todas, mas algumas.
Detesto remédios, mas gosto de tomar, quase sempre antiácidos sabor laranja. Gosto daquelas bolhinhas aromatizadas.
Gosto de crianças, não de todas, mas algumas.
Conheci um garoto, o nome dele é Pedro, tem 4 anos e me disse a coisa mais certa de todos os tempos. Ele me perguntou se eu já tinha nascido velho. Eu imediatamente disse que sim. Nasci velho e fui ficando jovem e depois fiquei velho de novo. Ele então respondeu: Um dia quando eu for novo vou querer ficar velho também, mas um velho bem novo como o senhor. Gostei da filosofada do garoto.
Ah sim, permita-me dizer que sempre me considerei novo para minha idade.
O irmão do Pedro jogou a bola e quebrou uma das minha tulipas no jardim da frente. A mãe dele veio e pediu desculpas e trouxe até um presente, um livro de culinária bem legal. Hora destas vou experimentar fazer um daqueles pratos engraçados que tem lá.
Bom, deixa eu voltar a minha tarefa diária. Andar pela calçada cumprimentando somente as pessoas que eu gosto. Noutra hora eu volto e se não voltar, estranhe não deve ser porque a vida deixou de ser parceira.
Lá vem aquela senhora chata da casa 450, melhor virar a cara e olhar o outro lado da rua.
Ah sim, permita-me dizer que sempre me considerei novo para minha idade.
O irmão do Pedro jogou a bola e quebrou uma das minha tulipas no jardim da frente. A mãe dele veio e pediu desculpas e trouxe até um presente, um livro de culinária bem legal. Hora destas vou experimentar fazer um daqueles pratos engraçados que tem lá.
Bom, deixa eu voltar a minha tarefa diária. Andar pela calçada cumprimentando somente as pessoas que eu gosto. Noutra hora eu volto e se não voltar, estranhe não deve ser porque a vida deixou de ser parceira.
Lá vem aquela senhora chata da casa 450, melhor virar a cara e olhar o outro lado da rua.