Sou do tempo do orelhão. Da ficha de míseros três minuto.
- você tem um ficha de telefone pra me emprestar?
Assim era nossas vidas numa ligação. De três em três minutos.
Era pouco e precioso o tempo.
Quem é desta época em Belo Horizonte, bem lembra da grande inovação. As cabines na praça sete. A gente se sentia em uma cabine em Londres. Tinha até fila.
Quando você olhava para pessoa da sua frente e notava que ela tinha um saco cheio de fichas nas maos . Era desanimador saber que agora ele não ia sair da cabine.
A expressão "agora a ficha caiu" vem desta época em que a ligação, ao completar escutava o som da ficha caindo.
Tempos que a gente era mais gente e menos robô.
Ainda existia a carta, o fax, o bip, o telegrama, a revista play boy, pendurada nas bancas que todo mundo dava aquela espiadinha.
A rua Curitiba era mão dupla e os ônibus eram de cores variadas.
Xodo da Vovó imperava muito antes do McDonald's.
Ter uma Barsa era sinônimo de inteligência e poder.
Tênis era o all Star. Ah este era o tênis.
Não existia "ficar " ou estava namorando ou estava sozinho.
Quinta tinha feira rippie na praça da liberdade. Nada de industrial era tudo artesanato mesmo. Até o baseado que eles fumavam lá.
A gente marcava os nosso encontros de orelhão para orelhão.
Era assim, vc dizia que iria ligar para o orelhão próximo e a pessoa ficava lá esperando
Telefone era coisa de rico. Pobre usava orelhão comunitário
Tempo que se foi.
Veio o cartão Telefone, o e-mail, o celular que diziam que iria nos aproximar e na verdade nunca estivemos tão distantes uns dos outros.
Tempo bom era o do orelhão, lá todos tinha que ficar perto. E sair de casa para conhecer gente.
Mas a gente vai levando e lembrando de um tempo que se paasou
Você tem aí uma ficha de telefone pra me emprestar?