É noite neste lado da cidade e ele anda pela rua molhada da última chuva que acabara de cair. Passos lentos, talvez sem destino. Seu sapato preto, todo respigado pela chuva, procura cuidadosamente a direção a ser seguida. Na cabeça ele sente que a noite cai em orvalhos. Sobre seus ombros ele tem o peso do destino. Ele sabe que não adianta correr. Então caminha.
Nas ruas, os carros passam com suas luzes fortes quebrando o silencio que vinha de dentro daquele homem. Ele não quer falar. Ele deseja andar pela rua molhada sem saber exatamente para onde está indo.
Do bolso ele tira um retrato. Olha e continua a caminhar. Agora um pouco mais apresado. Talvez a lembrança e a necessidade do que viu naquela foto o apressou para a vida. Talvez ele simplesmente quisesse um incentivo para continuar andando sem rumo ou quem sabe o rumo que escolheu é demasiadamente pesado e agora tem que achar a direção certa para caminhar antes que o dia amanheça.
Às vezes temos nossas noites para andarmos por ruas molhadas, sem rumo, sem pressa. Às vezes não nos permitimos olhar para a estrada porque sabemos que não acharemos um destino viável para nossas vidas. Então tiramos algo do bolso que nos impulsione a caminhar mais e somente assim, talvez, amanheceremos deitados numa cama macia do lado de quem a gente quer ficar o resto da vida.
Talvez você esteja caminhando por ruas molhadas e vazias, sem rumo, sem vontade. Talvez a sua capacidade de motivar-se já acabou e o que restou foi apenas uma necessidade de estar de pé, mas sabe que não tem prazer em nada. Assim caminham os que andam pela vida, sem viver de fato. Temos estas noites e não se assuste, somos perfeitamente normais. Às vezes pode bater aquela solidão, aquele aperto no coração, aquela vontade de gritar para o mundo “ Ei eu to aqui”, sim isto pode acontecer em algumas noites que não sabemos o por quê acontece este vácuo dentro da gente. Esta vontade de amar e ser amado por alguém, mas acredite isto acontece quase com todos que conheço.
Já andei por muitas noites em meus pensamentos. Já caminhei muitos quilômetros para poder chegar perto de alguém que muitas vezes nem sabia que eu estava ali pensando exatamente nela. Hoje eu entendo e talvez você vá entender também que a vida tem seus riscos e tem riscos que são deliciosos de serem vividos, outros precisam ser evitados e há os que a gente queria ter corrido, ah! Como a gente queria ter corrido, mas e não conseguimos. A vida é assim mesmo. É para ser sentida, tocada, literalmente vivida. Então não pense que você é o único que tem estas noites longa na vida. Todos nós uma ora ou outra vive assim. É a vida querendo nos ensinar a viver e isto acontecer durante as noites que ficamos sozinhos com a gente mesmo.
Para finalizar isto que muitos vão chamar de texto, mas que pra mim é uma coisa de gente biruta da Silva, eu digo que amo andar por ruas vazias e molhadas às vezes. Estas ruas estão dentro de mim e é ali que eu me reporto a aquelas coisas que me trazem prazer sem ter medo. Coisa de gente biruta que fica sentado sozinho, calado, tomando um chá e olhando para o nada, sentido todos os sentimentos que um relacionamento ou a falta dele pode trazer, mas, sobretudo feliz. Feliz porque a vida é uma delicia e somente sabe disto os que se arriscam. Então vai um conselho para você que ta ai lendo: Filhote de passarinho somente saberá que suas asas funcionam se pular da árvore. Isto, meu caro, é o risco da liberdade. Então está na hora de se arriscar, Um beijo
