A vida sempre vem recheada de boas
surpresas e eu sempre acreditei que pode haver uma surpresa boa ao final de
cada picolé. O que acontece quem nem sempre eles veem premiados.
A viajem estava ainda em
bom e notório desafio. Tentei dormir e não consegui. Afinal havia duas
britadeiras a todo vapor. Uma do meu lado e a outra na parte da frente.
Desta forma era quase impossível alguém dormir.
Sabe quando vem aquela vontade
terrível de fazer xixi? Você sabe e aposto que agora lembrou de alguma vez que
veio esta vontade terrível de fazer um simples xixi e este simples xixi se
torna num pesadelo sem fim. Pois bem deixa continuar a contar a true story
mais um pouco.
Eu estava como vontade de fazer
xixi. O cara do meu lado, o senhor Trua Storia, dormia e roncava num desenfreado
sem fim. Eu fui segurando achando que a próxima parada não demoraria muito e
isto foi a minha sina. Passou-se cinco minutos, dez minutos, vinte minutos e eu
já não aguentava mais e fui obrigado a cutucar ele pedindo passagem, já que ele
ocupava o seu assento Leito, parte do meu assento Leito e parte do corredor.
Ele olhou para o meu lado com os olhos ainda cheio de sono e eu pedi
passagem já levantando. Deixa te explicar uma coisa. Uma pessoa pequena,
magrinha consegue somente virar um pouco das pernas de lado e você já consegue
passar. No caso deste meu companheiro de viajem não. Ele simplesmente é grande
em todos os sentidos. Teve que levantar. Ai que vem o desatino. Ônibus em
movimento tudo é mais complicado. Ele foi levantando meio que em câmera lenta.
Segurou no assento da frente, tomou força e foi. Não foi. Voltou e caiu
sentado. Tentou pela segunda e somente na terceira que conseguiu pegar um
arranque e ficou de pé. Neste momento eu passei e me dirigi para o banheiro.
Aqui quero deixar registrado uma coisa: Banheiro de ônibus é a coisa mais
engraçada do mundo. Uma porta minúscula, que abre e você no aperto não acha nem
o apagador nem a tramela para trancar a bendita porta. Ainda tem uma saliência
na frente que te obriga a ficar meio inclinado para fazer xixi. Sem falar que o
cheiro é horrível e as pessoas que fazem o dois, nunca conseguem botar aquela
coisa por água a baixo. Parece isopor. Você dá descarga e ele roda, roda,
finge que vai embora e quando o vazo faz aquele glogloglo glo ele ressurge mais
vivo que nunca. Terrível.
Bom eu entrei e não achava a
tramela e nem o apagador. A vontade de fazer xixi é sorrateira. Quando
você está com vontade e começa a caminhar em direção ao banheiro ela dá uma
trégua. Mas quando você chega perto do vazo ela te ataca com toda fúria e o golpe te deixa zonzo que não consegue desabotoar o cinto. Pois é, entrei no banheiro e tomei o
primeiro golpe. Não achava o apagador e fui obrigado a fechar a porta ainda no escuro. Achei a tramela e virei ela no sentido horário com tudo escuro ainda e eu apalpando e
pensando porque cargas d'água eles não colocam de forma automática a luz. Eu
não sabia se procurava o danado do apagador fujão ou soltava o cinto. Minha bexiga
estava a ponto de explodir, quando tomei o segundo gole consegui com custo ascender a luz. Neste momento eu já tremia e o baixei o zíper e
comecei a fazer o número um. Deixa explicar uma coisa para você que é mulher.
Nós homens quando estamos com muita vontade de fazer xixi acontece algo
hilário, simplesmente não conseguimos acertar o alvo com facilidade. Parece que
o vazo fica a uns quinhentos metros de distância e o primeiro jato nunca, mas nunca mesmo sai em linha reta. Ele sempre faz uma curva e para corrigir não há treinamento ético que dê jeito. Agora imagina isto num
banheiro minúsculo, com um teto que te obriga a ficar meio inclinado e com o
ônibus em movimento. Não dá para esperar a curva acabar, para iniciar a jornada do xixi, isto porque quando você
mira e acha que vai acertar e é neste momento, que diante de tanta reta que tem a estrada para Brasília que o danado do ônibus faz uma curva e te prejudica no
alcance do objetivo. E a gente não consegue fazer xixi no intermitente, só sai
na rajada uma vez iniciado o processo, não dá para parar. Imagina na curva. Infelizmente tive que fazer esta referencia para que as mulheres tenha piedade ao pedirem para acertar o alvo quando estivermos desesperados, com a bexiga explodido.
Voltemos ao banheiro. Aliviei de forma prazerosa. O alívio é indescritível. Mas quando você abre a porta do banheiro todo mundo dá uma olhadinha para trás,
talvez pensando que o fedor do banheiro é advindo de sua estadia lá.
Bom depois do meu desafio no
banheiro era hora de voltar para o assento Leito. Caminhei de cabeça
erguida diante dos poucos passageiros que não estavam dormindo. Para minha
surpresa o Trua Storia estava acordado. Ele levantou e eu me sentei. A primeira
coisa que ele me disse foi - Banheiro fedorento, né. Eu disse que
sim. Ao que ele respondeu: Eu só uso os da parada, é mais limpo e não
balança muito. Tive que concordar. Dito isto o ônibus parou.
Aproveitei para descer e tomar
um café antes de retornarmos para a última leva da viagem. Entrei na
lanchonete e uma garçonete, nem sei se usa ainda este termo, veio e eu pedi um
café com leite. Perguntei se poderia colocar um pouco de leite frio. Ela não
respondeu. Sabe eu fico pensando que as pessoas deveriam gostar do que fazem,
porque quando gostam, fazem melhor. A moça trouxe o café com leite frio. Eu
sendo cortês e educado, disse que era só um pouco. A mulher me olhou e falou
assim. O senhor disse para colocar leite frio e eu coloquei. Para não criar
mais transtorno, afinal estava quase chegando ao meu destino, peguei o leite
com café frio e tentei tomar, mas a mulher não parava de falar que ela tinha
entendido certo. Deixei o café com leite no balcão para não deixar na cara
dela, entrei no ônibus e logo em seguida veio o Trua e a Cheirinho de Barata
juntamente com a menina sonolenta.
O ônibus começou a sua marcha
rumo à Brasília. Meia hora se passou e ouvi um chuarrrrr. Olhei para a frente e
a menina tinha vomitado. Olha vou encurtar esta história de horrores. Fui
até Brasília com os pés levantados porque ora aquela coisa descia, ora ela subia
trazendo aquele cheiro terrível.
Chegamos em Brasília por volta
das oito da manhã de um dia quente. Meu filho estava lá sorrindo e eu morto, depois de horas sofrendo.
Ele perguntou: E ai velhinho
como foi a viagem? Eu não tive nem ânimo de responder, só acenei a cabeça,
entrei no carro e pensei: Volto de avião, volto de avião.
Uma semana depois, estava em
embarcando um voo Brasília - Belo Horizonte, livre do maldito
"leito", longe de todo aquele sofrimento. Entrei, sentei na
poltrona, de forma tranquila. O ar condicionado ligado, Aeromoça linda.
Quarenta minutos em BH. Tudo perfeito. Passageiros se acomodando nos seus
lugares e sem essa de trocar de lugar com ninguém. Ai que maravilha. Foi só
pensar e quem eu vejo embarcando o Trua Storia, mas esta é outra true
story.
Fim