sexta-feira, 20 de maio de 2011

Carta




Já escrevi cartas de longas linhas, com palavras macias  para dizer que aqui  estamos todos bem. Já escrevi cartas de despedidas que nunca cumpri e outras de retorno que nunca aconteceram....

Talvez todos nós tenhamos aqueles momentos de nostalgia guardados em nosso peito para ocasiões oportunas. Talvez quando a idade vai chegando damos mais valores a coisas menos importantes e assim a vida segue, registrando em cartas da nossa memória as lembranças antigas. Verdade que são lembranças boas ou chatas, mas são lembranças e fazem parte da nossa história.
Lembro-me, quando garoto, de ficar olhando para o carteiro que trazia uma sacola cheia de papeis, com sua roupa amarelo creme e seu chapéu de bico quadrado. Ficava deslumbrado como aquilo funcionava e a ligação que o carteiro tinha com nossa vida sem ao menos conhecer-nos ou saber o teor da carta que entregava. De certo que conhecia mais os cachorros que os donos.
Hoje receber uma carta pessoal, dando notícias de parentes ou amor é coisa do passado. Temos emails, blogs, redes sociais. Temos torpedos que chegam em frações de segundo, temos as câmeras digitais e suas parafernálias eletrônicas.
 E as cartas? Onde ficou o charme de tentar ler aquela cartinha da irmã que o amigo da escola mandou? Onde ficou o charme de esperar o que foi  registrado em palavras  escritas de próprio punho  com toda a emoção possível de alguém que está relatando sua saudade? As cartas estão  no passado.
Hoje recebemos um monte de cartas comerciais, destas de mala direta onde pessoas que não conhecemos sabem nosso endereço, nosso CPF, nossa profissão sem ao menos termos nos visto uma única vez se quer. Tratam-nos como se íntimos fossemos. Carta, carta mesmo não recebemos mais. Acabou este negócio de escrever em papel e postar nos correios. Escreva logo ai no computador, pede o computador para  corrigir, e aperta para enviar. Pronto sua carta, ou melhor, sua mensagem foi enviada e pode ser que quando estiver fechando seu email a outra pessoa esteja lendo seu texto. Tudo sem complicação. Tecnologia veio para ficar e as cartas pessoais, estas estão aparentemente aposentadas.
Eu ainda gosto de receber cartões de fim de ano pelos correios. Gosto porque mantém certo calor e exclusividade. Sou importante  pois se todos recebem cartões virtuais, eu  recebo um cartão escrito e postado para mim com uma certa exclusividade egoística. Exclusividade que guardo em uma caixa cheia destes cartões e outros e que as vezes, como agora eu abro para lembrar dos amigos de anos e amigos recentes.
Coisas urgentes quase sempre superam coisas boas. Carta é coisa boa. É um coração passado no papel e depositado na urna dos correios. Carta é valor de passado, de poema, de importância. Email é prático, seco, e indireto. Urgente. Carta não. Carta tem valor de peso. Carta tem valor de reconhecimento. Carta pede atenção, pede passagem e coloca dentro da gente a forma da letra e do texto. È a outra pessoa em tinta e papel. Quase escutamos a voz de quem escreve lendo o texto para a gente.
Noutro dia li sobre o fim dos livros impressos. Achei um insulto à literatura. Não que seja contra os E-books, mas  imagine você, uma biblioteca apenas com obras virtuais sem estantes, sem livros impressos. Que chatice, que robótico. Livro  nos e-books são  apenas livros. Livro impresso é o livro. Tem alma e identidade do autor. Tem o cheiro do papel impresso e colocado de forma única.
Meus amigos sempre me presenteiam com três coisas básicas: canecas de louças ( tenho um a coleção), livros e cartas ou postais.
Carta. Quantos trados foram enviados por este mecanismo. Quantos amores se conheceram por cartas de amor. Quantos amores se foram através de carta de separação. Carta.
Mas a vida anda e eu não quero ficar para traz. Então se queres me encantar,  manda carta escrita em papel pautado sem aqueles pronomes de tratamento  formais. Pode me chamar de caro amigo e demonstrar o valor inestimável da nossa amizade em carta pessoal. Se preferir e a urgência não deixar você sentar para escrever em papel, pode mandar um email, mas não abandone a forma mais linda de se expressar ao que mora longe. A carta.

3 comentários:

Chocolates Belmira disse...

adoraria escrever-lhe uma carta, assim como receber uma sua.
bjs

Voando com Borboletas disse...

Qual é mesmo o seu endereço???
rssrs
Texto nostálgico...gostei!!
Uma ótima semana!
E vamos nos fazer felizes!!!
Bjs
Borboleta

Anônimo disse...

Qual o endereço do caro amigo?!
Me identifiquei muito com o texto... tenho todas as cartas que recebi e sei que meus amigos guardam as que eu enviei.
Adoro ler livros que são baseados em cartas reais, pois ali conseguimos ver a evolução dos assuntos, os muitos envolvidos... e não posso deixar de citar a magia que é uma carta de amor!
E quanto ao fim dos livros físicos penso da mesma forma.
Beijos