terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Enquanto esperava a doce voz me chamou. Observei as flores e as folhas do jardim. Havia maciez, viscosidade e vida.
Havia um toque delicado nas pétalas molhadas da minha vida.
Olhares, pensar... imaginação de algum lugar ao norte dos sonhos, onde o sol brilha sem queimar as flores, as folhas, os jardins.
Quem imaginaria. A chuva molha a terra molhada, encharcada. Lugares verdes, molhados, com um suor orvalhado de madrugadinha.
A chuva beija as plantas e as plantas dobram ao peso dos beijos de pingos. Ao norte tem sol, dizia a margarida de pétala fechada.
As graminhas, verdinhas que dão gosto. Os musgos crescentes junto ao tronco das pequenas árvores molhadas e  anuncia a nova estação.
Nem mesmo escapa dos pingos os sonhos.
Sonhos molhados, Sonhos beijados pela chuva... Doce, meu doce mel doce. 
Quem haveria de dizer "Eu te amo" sem beijar a escuridão molhada daquela noite?
Enquanto esperava a chuva passar, aquela doce voz me chamava a escrever desconexamente aquilo que vejo no pingo da chuva.
O reflexo do pingo. A imagem no pingo. Pingo e imagem Imagem no pingo d'água.
Somos pingos de chuva que cai
Somos pétalas que se dobram aos beijos
Somos gramas verdinhas que cresce ao regar do amor.
Somos sonho sonhado na manhãzinha de fevereiro. Quatorze para ser exato em "um ano qualquer" de mil novecentos e setenta e um.
Somos beijos doados
Temos calça com barraras molhadas, sapatos molhados e uma canção no coração.

Enquanto esperava a chuva caia. Enquanto esperava a voz me chamava a escreve. " Escreva vai, mais um, mais dois, mais três ... beijos, pingos e sonhos. Escreva sobre a chuva e  sobre amores"
Amor é como pingos de chuva que regam a terra seca dos corações. Ficam verdes e cheio de vida.
Amor que não rega, não é amor, é  amizade.
Como são belos os pingos da chuva...

E foi assim esperando a chuva passar e ouvindo uma voz que escrevi o que não sei dizer sobre você e a chuva e sobre o amor e sobre os sonhos.
Enquanto esperava... declarei-me apaixonado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que surpresa abrir a página do seu blog e me deparar com mais um texto seu.
Texto belíssimo, como sempre.

Achei muito sublime a comparação da sua vida com as pétalas molhadas das flores.

Espero que "aquela voz doce" (seja ela quem for) te faça escrever cada vez mais.

"Somos pingos de chuva que cai
Somos pétalas que se dobram aos beijos
Somos gramas verdinhas que cresce ao regar do amor."
É muito bom sermos tudo isso ao mesmo tempo: ora somos pingos, ora pétalas, ora gramas, afinal o amor é uma troca eterna e deve ser uma troca equilibrada, para que o pingo não pese demais as pétalas, fazendo com que o talo se quebre.

"Amor que não rega, não é amor, é amizade.
Como são belos os pingos da chuva..."
Vou discordar só um pouquinho dessa passagem, pois a amizade para nascer e permanecer também precisa ser regada, para mim, o que muda é a dosagem e a forma. Nada mais que isso.

"E foi assim esperando a chuva passar e ouvindo uma voz que escrevi o que não sei dizer sobre você e a chuva e sobre o amor e sobre os sonhos.
Enquanto esperava... declarei-me apaixonado."
Fiquei pensando o quão complexa deve ser essa "doce voz" para você dizer que não sabe escrever sobre essa pessoa, afinal você escreve sobre tudo e sobre todos de forma ímpar.
Por fim, estou imaginando o quanto o coração dessa "doce voz" bateu ao ler a última frase: declarei-me apaixonado!

Que essa "doce voz" te faça escrever cada vez mais, que lá no seu norte tenha sempre sol, que os pingos da chuva sempre beije as pétalas das flores na medida exata, que as gramas estejam sempre verde... e que seu coração continue pulsando cada vez mais apaixonado por essa "doce voz" (que acredito, também deve se declarar apaixonada por você, afinal paixão unilateral não tem graça alguma).

Mulher sortuda essa dona da "doce voz", afinal, não é todo mundo que tem a chance de ler coisas tão lindas e receber uma declaração dessa forma.