terça-feira, 24 de novembro de 2015

Contos de um dia Calmo.

Calmo, assim eu diria meu amigo. Dia calmo...
O sol, de um amarelo âmbar estava inacreditavelmente esplêndido. Dia calmo...
Aquela rua, de pedras quadradas e casas antigas, parecia uma pintura. Dia calmo...
Estava sentado naquela mesa olhando as crianças na rua. Elas brincavam  inocentes em um dia calmo...
Lembro-me do dia calmo até ela aparecer...
Com seu vestido florido, com sua pele dourada. Naquele dia calmo.
Meu olhar atravessou aquele rua pintada pelo sol e repousou sobre o seu rosto. Cabelos soltos, passos largos, vestido florido iluminado pelos raios do sol. O dia deixou de ser calmo dentro de mim. 
Coração acelerado, boca seca, pernas trêmulas. Parecia um daqueles ataques de ansiedade e contemplação. O dia deixou de ser calmo, pois um turbilhão de sentimentos e vontades atravessaram o  meu corpo, como os raios do sol atravessava as nuvens finas e esparsas e atingiam a rua pintada.
Ela veio em minha direção atravessando a rua perpendicularmente, seus passos firmes, mostrava sua certeza. Seu corpo delgado,  movia-se de um lado para o outro como num ballet  mágico, que somente as mais elegantes mulheres podem ter. Atravessou, subiu na calçada e mais um ou dois passos estaria diante de mim. O tempo parou. O que era calmo tornou-se agitado dentro de mim.  Como um daqueles vendavais que mexem e retorcem as árvores nos meses de verão, onde a tempestade tropical agita as matas e lança folhas ao ar, assim estava eu. Levantei-me .
 Entendo que há coisas mais significativas na vida de uma pessoa do que um simples observar, mas aquela não era uma observação dos olhos, era um contemplar do coração. Sem razão e sem precedentes, assim é o amor. O mais nobre sentimento é o mais cruel para o homem que se arrisca a deixar seu olhar repousar sobre uma mulher linda.
Estava de pé, ela aproximou-se e olhou pra mim. Nunca vi olhos tão  lindos. Olhar intenso, Olhar que varre a alma e desvenda todos os segredos que guardamos a anos, engavetados em pequenos baús feito de passado.  O olhar dela  penetrou-me de tal forma que me senti paralisado. Foi um instante de segundo, mas intensamente válido pela vida toda. Apaixonei no dia Calmo.
Ela veio e o vento que estava a favor, trouxe o seu cheiro mais íntimo. O vento batia naquele corpo e arrancava partículas de perfume. 
   Oh vento amigo! Que força bruta dos teus braços 
tragam pra dentro de mim o cheiro deste amor. 
Vento que bate e cada parte do seu corpo
Traz  seus fragmentos 
Diga-me, oh vento , o sabor daquele corpo. 

Ela veio e parou diante de mim. Olhei seus olhos. Notei sua boca. Senti o seu cheiro naquele dia Calmo.
Deixei-a passar pelo canto da calçada. Retirei o chapéu em respeito e manejei a cabeça. Não sei se por vergonha ou por falta de prática. Talvez seja a pura timidez que me fez olhar para o chão. Pensei: Meu Deus como ela é linda.
Ela passou e foi andando rua a frente.  Seu nome ainda não sei dizer. Mas o dia tornou-se calmo quando se foi. 
Ela foi como aquele vento forte que faz tanto barulho e tantas janelas batem anunciando sua passagem. Passa e se vai, deixando seu cheiro e sua marca. 
É, eu diria que o dia estava calmo, agora digo que ele está perfeito... Espero que ela volte amanhã.


continua.

Um comentário:

Anônimo disse...

Dias calmos que nos reviram pelo avesso!
Dias calmos que nos permitem um encontro mágico!
Dias calmos que permitem o famoso olho no olho!
Dias calmos que nos deixam com a boca seca!
Dias calmos que deixam as pernas bambas!
Dias calmos que aceleram o coração!
Dias calmos que nos deixam sem fala!
Dias calmos que nos revira pelo avesso!
Dias calmos... o primeiro “oi”, “qual o seu nome”, “qual seu livro favorito”!
Dias calmos... o primeiro beijo... o primeiro “amasso”... o primeiro gozo!
Dias calmos... que a pessoa desejada nesse dia calmo, seja a mesma pessoa desejada por muito tempo!
Dias calmos que nos reviram pelo avesso!